Thursday, July 19, 2007

Menino que queria fazer cinema

Esses dias por agora me veio a lembrança do menino que queria fazer cinema. Foi um encontro casual que se deu em algum lugar esquecível, num dia que devia ser memorável, provavelmente num dia de chuva. Eu lembro que ele carregava um boneco do Batman numa das mãos e dizia que ia para as Américas fazer esse cinema que ele tanto idolatrava. E eu, ateu, penso até hoje naquele achado patético, aquele menino com mais aquele sonho equivocado, igual (e provavelmente passageiro). Eu ri da cara dele.

Cinema é uma praga diria os gregos numa ópera alemã. É uma tragédia, com muitos mortos e feridos, com sangue, é vida humana. E o que leva um homem para beira do abismo?

O cheiro que vem do fazer cinema é um cartoon, bem non-sense, destes que fazem que os seus amantes venham como uma alminha flutuante - ou pezinhos flutuantes, para perto da câmera.

Parece aqui, que o cinema é uma maldição mais sofisticada que o homem inventou contra si mesmo.

Eu realmente parecia saber naquele momento que o futuro daquele menino seria um abismo; principalmente pelas suas escolhas. Digamos que ele hoje cresceu - vamos adiantar o tempo – especulando aqui como seria o amanhã do menino que queria fazer cinema, que vivo vai estar em algum lugar do amanhã. Que cinema errado ele queria fazer. Será que ele teve a chance de conhecer Truffaut? Ou de ver um Hitchcock? Wilder, Scorsese, Ford, Chaplin?

Se bem que na época dos gregos não existia o falso cinema. Existia a vida, toda entrecortada, mal filmada, confusa. E na época das operas não se podia filmar, por exemplo, com um celular os melhores momentos de toda aquela cantoria. O abismo dos homens eram outras loucuras; a busca da liberdade, da expressão, descobrimento, maldições essas infinitas que não caberia dizer e que provavelmente não saberia definir aqui.

E então descobriram um jeito de filmar a vida. Filmaram o trem chegando. Filmaram os bebês chorando. Filmaram o mar e os barcos. Filmaram o regador cheio de água. Depois veio o tempero.

E o menino que queria fazer cinema. O que ele queria dizer?
Fazer um filme do Batman? Teria ele feito afinal, o cinema errado? (se é que existe essa denominação).
Bom, eu não posso responder isso. De fato, nem devia imaginar se ele teria ou não visto ou conhecido todos aqueles nomes. Porque talvez isso não importe mais. E também porque eu não posso prever o futuro dele ou de outros meninos.

Queria poder me agachar ao lado dele. E ter pegado aquele boneco do Batman da mão dele. Eu não entendi aquele menino. E aquela ingenuidade, que parecia tão promíscua, tão boba.

Queria amar o cinema como uma criança.
Queria voltar no tempo, esse eu, esse eu que não volta mais.

1 comment:

Anonymous said...

Poxa... será que eu entendi mesmo?? Achei o texto um pouco triste :( bjo, te amo mô