Saturday, July 28, 2007

Era um cara estranho ...

Ele tinha todo o roteiro decupado mentalmente. Todos os diálogos, decorados e repassados, refeitos e corrigidos. E tudo estava pronto para gravar seu primeiro e esperado filme.

Não havia sequer hipótese de você perguntar algo para ele sobre o filme ou sua estética que ele não soubesse responder, sem muito estardalhaço ora em êxtase ora em momentos de racionalidade. E claro, ele gostava muitoooo de cinema. Parafraseava Glauber e Kubrick, seus preferidos, sempre que podia. Adorava os clássicos de Hollywood, mas sabia razoavelmente sobre os ciclos de sua terra natal. Comprava filmes e revistas, alugava filmes. E tinha muitas idéias, escrevia, refletia, debatia.

- E ai um dia, ele parou de falar, deixou de ser expectador e partiu para tentar fazer seu primeiro filme, que pela dificuldade, naturalmente seria um curta-metragem. Conseguiu dinheiro aqui, câmera emprestada ali, luz, tripé e microfone, foi numa academia de atores, produziu e enfim chegou na parte de decorar mentalmente o roteiro e os diálogos, antes das gravações.

Tudo estava pronto/E tudo iria começar.

Para a equipe, um aviso a ser seguido:
“Quando eu estou inspirado, quando estou no set, quero que me chame de Kubrick”

E então alguns puderam ver ali, exatamente naquele momento - o filme se despedindo dele.
Alguns poderiam achar cômico. Outros nunca souberam ou perceberam (ou deram atenção).

As luzes (poucas) acenderam meio que rapidamente, alguém meio que gritou “sim!” para o som e a câmera ligou.

Aos poucos, todo o conhecimento dele pareceu sumir; como tudo ao seu redor estava fadado ao mesmo destino. Muita euforia! Assim foram perdidas as preciosas e determinantes horas iniciais, onde o perfeccionismo de gravar a primeira tomada é refletida na última da ordem do dia; a infeliz cena que sempre é condenada pelo cansado e pela vontade de dormir.
E foi assim que alguns atores desistiram no meio do processo.
E foi assim também para alguns membros da equipe e outros apoios, que deixariam de existir logo adiante...

Obviamente culpa do êxtase, apossado do filme e controlando a figura do então diretor. De repente as peças claramente pareciam não se encaixar mais e pareciam que não, não iam chegar ao fim nunca. A paixão que dominou somente um ou reticências não foi suficiente para amenizar o clima de quem estava no cativeiro, na espera do resgate de terminar tudo, mas de fato, incrivelmente ou não, o filme foi finalizado e chegou ao fim.

Muita gente tende a apoiar o erro, a tolice. E muita gente tende a perceber, mas não faz nada ou acha normal. E muita gente tende a se enganar (espero que esse não seja meu caso) quanto a muita coisa. O fato é que o filme ficou pronto (!) e foi, digamos, lançado. Apesar de muito criticado e taxado, ele – o shining director adorou o resultado final.

Eu soube depois que ele tentaria fazer outro filme, cerca de um ano depois. E posso apenas falar, pelo que vi desta vez, já como um expectador mais distante, os mesmos problemas voltarem a se repetir.

E já faz dois anos que eu não o vejo. Ele sumiu do mapa. Um colega certa vez me disse ele adotou uma criança. Foi lecionar. Mudou-se do estado/país.

*Se ainda brinca de fazer filmes ou não, eu também não faço idéia. E mesmo que ninguém gostasse dos resultados de seus dois filmes e de seus argumentos, ele parecia não se importar.

...se importar. Ele foi lá e fez, sozinho ou não – mas fez. Pena que de forma tão bizarra, pena que de forma tão catastrófica e malfeita, mal conduzida.

Pena que era um cara estranho.

5 comments:

Anonymous said...

Definitivamente como disse o nosso Jedi “O menino tem o dom da palavra”.

Realmente acredito nisso, esse dom não e para qualquer um. Ser lúdico, ver as coisas de uma maneira lírica, ter sonhos e principalmente viver em função dos mesmos. Admiro isso. Do meu jeito, criticando te ridicularizando, mas e minha maneira de demonstrar afeto...

Bem

Lendo esse seu artigo, me toquei pela ambição do jovem aspirante a cineasta, mas logo me lembrei que participei dessa fatídica jornada.. uma grande decepção, ali eu vi que não pode se viver só de sonho. E vivendo essa realidade dura do cinema que venho me tornando cada vez mas amargo.

Então Capaçava, viver de sonhos só não basta... e vc tem a chance de provar isso.. que alem de sonhador vc também e competente... como co-realizador do seu filme aceito quase tudo nessa empreitada, to aqui para o que der e vinher, quero ter o prazer de dizer num futuro, espero que próximo, eu trabalhei

Unknown said...

esse petrus aí é um fdp! KKKKKK
isashao, zuera!


johnny passei aqui pra lhe dizer qe to com muuuuuuuuuuuuuitas saudades!

te amo
:***********(

Anonymous said...

Eu queria ficar triste, não consigo,faz tempo que sinto esse imenso vazio.Não sei quando vai passar, estou com medo de ligar o Play. Vou continuar caminhando, me fez bem ouvir voçê falar que as coisas erão dificeis pra todos, de certa forma levantei cabeça. Até aquele dia eu andava de cabeça baixa. Vou arrumar coragem pra de ação e vou sorrir pra voçê.
Abraços

Anonymous said...

ótimo conceito do seu âmbito blogueiro, abração

www.bonequinhodeluxo.com

Anonymous said...

Tenho um genio em casa e só agora me dei conta....ao invés de cinema vc deveria fazer Jornalismo...mas ainda ta em tempo de se tornar um critico de Cinema...
Vai escrever bem assim la em casa...rsss
A quem será que esse menino puxou??
Te amo filho....continue assim pra eu não perder a Esperança, que hj é a unica coisa que me resta pra não desistir de acreditar em "humanos" como vc!!
Xero!
Mamys